O Beijo no Asfalto em curta temporada no Teatro do Núcleo Experimental

O Beijo no Asfalto talvez seja o maior legado do teatro rodrigueano ao poder do mundo midiático e todos os seus ilimitados desdobramentos, sua relação com o homem, suas consequências, sua moral, sua ética. 

Clássico de Nelson Rodrigues, que reestreia dia 20 de novembro, quarta-feira, às 21h, no Teatro do Núcleo Experimental, estreou em outubro no SESC Santo AndréBruno Perillo assina a direção do espetáculo que conta com os atores Anderson Negreiros, Angela Ribeiro, Heitor Goldflus, Lucas Lentini, Mauro Schames, Natalia Gonsales, Rita Pisano, Roberto Audio Valdir Rivaben.

Falando de um Rio de Janeiro de 60 anos atrás, a peça ressurge mais atual do que nunca. Nelson Rodrigues expõe, de modo claro e objetivo, o terror que se alastra por uma sociedade diante de uma notícia que se mostra fora do paradigma inconsciente da normalidade, que aparenta estar num plano de percepção diferente do senso comum estabelecido nesta mesma sociedade.

A notícia de que um homem beijou outro homem na boca, no meio da rua, no centro da grande cidade, é o suficiente para servir de célula para disseminar uma tragédia.

Arandir, o protagonista, catalisa em si tudo o que resta de vida humana, em seu sentido simbólico mais poético e fraterno possível. Após este simples e singelo ato (mas indubitavelmente raro e belo) – o beijo na boca de um homem atropelado e prestes a morrer – Arandir passa de mera testemunha de um acidente a acusado de um crime. Por que essa “fábula” trágica, desenhada tão bem por Nelson Rodrigues, nos é tão impactante ainda hoje?

Nossa busca, enquanto artistas e cidadãos, é a tentativa de reverter a cegueira cotidiana, rígida e impermeável (que nos faz sucumbir ao aniquilamento da poesia, do amor) e propor outros olhares possíveis para aquilo que nos cerca.

Em que momento passamos a ser regidos pelas notícias e opiniões ao redor? Em que lugar ficou a nossa capacidade de reflexão e discernimento, de empatia e sensibilidade?

O personagem Amado Ribeiro, o repórter, por sua vez, é o catalisador maior da tragédia. Ele é o rei das manchetes, o homem que domina o talento mais cafajeste numa sociedade.

É imprescindível que se veja no palco esta figura de um jeito cru, no que ele tem de mais nocivo e sórdido; e não da maneira em que costumeiramente vemos os canalhas, “maquiados”.

O nosso mundo só lê manchetes. As manchetes são basicamente aquilo que o nosso mundo é, no aqui e no agora do hoje. Twitter, Facebook, Instagram, Whatsapp e outros afins, são gigantes canalizadores e reprodutores de manchetes e/ou “notícias”, e das mais infinitas opiniões.

A grande desgraça que se abate sobre Arandir talvez seja a intromissão e a usurpação, em sua intimidade mais profunda, de uma alienação e de uma ignorância tóxicas endêmicas, que se originam nos mais antigos resquícios da nossa fundação de país. O pequeno ato de Arandir é um gigantesco ato de resistência.

A devastação de sua privacidade é a consequência direta de sua condenação. Um beijo entre dois homens, no meio da rua, diante da bandeira nacional, é atitude pública inadmissível.

À parte e somando-se a tudo isso, a escolha de um ator negro para o papel de Arandir (o ator Anderson Negreiros) traz instantaneamente novas camadas de conexões, arrastando junto uma história de 500 anos de um Brasil repleto de contradições inexoráveis em sua fragilíssima identidade.

Sinopse

Um atropelamento. Um homem cai no asfalto, em plena Praça da Bandeira, Rio de Janeiro. Na sua agonia, pede um beijo a outro homem que correu em seu auxílio. O beijo acontece, o atropelado morre, a multidão ao redor testemunhou. A partir desse acontecimento, uma tragédia se desenrola. O beijo no asfalto desmascara, com visceralidade, as raízes da sociedade brasileira, suas características, vícios e estigmas mais profundos.

FICHA TÉCNICA

  • Texto – Nelson Rodrigues 
  • Direção – Bruno Perillo. 
  • Elenco – Anderson Negreiros, Angela Ribeiro, Heitor Goldflus, Lucas Lentini, Mauro Schames, Natalia Gonsales, Rita Pisano, Roberto Audio e Valdir Rivaben. 
  • Assistente de Direção – Fabio Mráz. 
  • Cenografia – Marisa Bentivegna. 
  • Figurino – Anne Cerruti. 
  • Assistente de Figurino – Adriana Barreto. 
  • Iluminação – Aline Santini. 
  • Trilha Sonora – Dr. Morris. 
  • Fotos – Kim Leekyung. 
  • Produtor Executivo – Fabrício Síndice. 
  • Direção de Produção – Edinho Rodrigues (Brancalyone Produções). 
  • Realização – Sesc SP.

O BEIJO NO ASFALTO

Teatro do Núcleo Experimental

Endereço: Rua Barra Funda, 637 – Barra Funda, São Paulo 

Telefone: (11) 3259-0898

Temporada: 20 de novembro a 12 de dezembro 

Quartas e quintas, às 21h 

Duração – 80 minutos. Recomendado para maiores de 14 anos. 

Ingressos: R$ 50,00 inteira e R$ 25,00 meia 

Vendas – www.tudus.com.br